Wednesday, May 16, 2007

LALÁ E LELÉ - Texto 1 (Série Silvio)

Certa vez, duas lagartinhas estavam rastejando na floresta. Elas se chamavam Lagamarta e Lengamárcia, mas eram apelidadas de Lalá e Lelé. Lalá era feliz consigo mesma; amava o seu dia-a-dia de folhas verdinhas crocantes. Lelé, porém, só vivia reclamando. E reclamava, reclamava... reclamava de tudo. De tanto reclamar, Lelé não prestou atenção ao caminho e acabou se separando de sua companheira Lalá.

Lalá logo notou a ausência de elé e se preocupou com ela. Porém, Lelé nem se deu conta da separação da amiga e continuava reclamando. Lelé vivia se comparando aos outros animais dizendo:

- Por que fui nascer essa criatura tão desprezível? Vivo quase rastejando, quase me arastando no chão e sujando sempre minha barriguinha. As abelhas, por exemplo, tem asas bem rápidas e por isso podem voar. Como eu gostaria de ter essas asas de abelha. Oh destino infeliz! Deus não gosta de mim.
Um vaga-lume mágico, chamado Maga-lume, passando perto de Lelé, ouviu suas chorumelas; e tendo pena da lagartinha tão triste, fez com que nela nascessem asas de abelha. Lelé ficou contente e tratou logo de bater bem rápido as asinhas. Conseguia voar, sim. Mas seu corpo de lagarta não tinha o formato adequado para voar e ela voava desajeitadamente.
Um dia, passando por uma aranha, ela disse:
- Que pernas longas e fortes. Garanto que ela deve correr muito. Eu não. Com estas minhas perninhas e braços; sou um verdadeiro cotoco com asas. Quase não ando. Deus não teve pena de mim quando me criou. Como sou infeliz.
Novamente, Maga-lume estava próximo de Lelé e ouvindo a reclamação da lagartinha, quis resolver o problema dela e fez com que nela surgissem pernas de aranha. Agora, Lelé podia andar mais rápido, ainda que mais desajeitadamente.
Um dia, Lelé passava por um besouro, quando notou sua dura carapaça. E disse:
- Que carapaça forte! É uma verdadeira armadura. Se tivesse essa carapaça, nenhum animal iria me atacar. Mas eu não sou assim. Tenho esse corpo molenga, vulnerável. Coitada de mim.
Pode parecer incrível, mas, mais uma vez, Maga-lume ouviu a lenga-lenga da lagarta. E assim, para ajudá-la, fez com que nela aparecesse uma couraça bem dura. Inicialmente, a lagarta ficou feliz, mas logo notou que a carapaça não a deixava correr nem tampouco voar.
Um dia, estava Lelé passando por um lago quando se olhou no espelho d'água. Ela viu que tinha se transformado em uma criatura feia e disforme. Uma verdadeira aberração da qual todas as criaturas se afastavam de medo. Pela primeira vez, sentindo-se sozinha e solitária, Lelé chorou.
Preferiu ter continuado a ser uma simples lagarta. Pelo menos, tinha a companhia de sua amiga Lalá.
Foi quando, de repente, alguma coisa surgiu do céu. Parecia um anjo. Tinha asas de anjo, mas eram lindas... Eram co-lo-ri-das! Lelé demorou a reconhecer. Era ela... sua amiga Lalá.
- Lalá. O que houve com você? Você está linda! Essas asas, esse corpo esguio.
Lalá respondeu:
- Não fiz nada. Continuei minha vida, comendo minhas folhinhas, agradecendo o sol de cada dia. Um dia, acordei assim. - E notando o corpo da amiga Lelé, perguntou: E você? O que aconteceu contigo? E por que está chorando?
- Eu só fiz burrada nesta vida. Desejei tanto ter o que os outros tinham que me tornei um monstro.
- É bem verdade que sua aparência não está muito agradável, mas sempre há tempo para tomarmos o caminho certo. Suas mudanças corporais atrasaram um pouco a sua metamorfose. Não sei quanto tempo ela irá demorar, mas ela vai acontecer. Enquanto isso, aceite-se do jeito que é. Isso fará com que o tempo de espera seja mais curto.
Lelé, agora cheia de esperança, ainda estava se refazendo do choro, quando observou:
- Agora não vou poder mais acompanhar você. Você está livre para voar e eu presa neste corpo.
- Você se engana. Ficarei contigo e lhe farei companhia. Às vezes, sairei para buscar-te alimento, mas sempre voltarei para ficar contigo. Lembre-se, aceite-se do jeito que é.
E assim, alguns dias se passaram. Logo, duas borboletas lindas e radiantes estavam buscando o Céu. Lalá e Lelé.

1 Comments:

At 12:04 PM, Blogger Sabrina said...

"É bem verdade que sua aparência não está muito agradável, mas sempre há tempo para tomarmos o caminho certo. Suas mudanças corporais atrasaram um pouco a sua metamorfose. Não sei quanto tempo ela irá demorar, mas ela vai acontecer. Enquanto isso, aceite-se do jeito que é. Isso fará com que o tempo de espera seja mais curto."

Esse trecho é perfeito!!!

Sílvio, adorei o texto... parabéns e obrigada por contribuir com a Issana para manter esse cantinho tão cheio de aprendizado!!!

Um beijo grande no coração de vocês...

PS: eu nem preciso dizer o quanto gosto disso aqui, ne?!

:)

 

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